4.3
Entram
Sir Walter, Dourado, Tim e Tutor.
SIR
WALTER
Isso
lá é confinamento?
DOURADO
Ela
estava sob
Uma
dupla tranca.
SIR
WALTER
Um
duplo demônio, antes!
TIM
Taí
um sargento durão, Tutor, que nunca amolece.1
DOURADO
Você,
como trancaria as mulheres?
TIM
A
cadeado, pai; os venezianos têm o uso;2
Meu
tutor me lê.
SIR
WALTER
Bolas,
se estava assim trancada, como escapou?
DOURADO
Havia
um pequeno buraco que dava na vala;
Mas
quem pensaria nisso?
SIR
WALTER
Um
homem mais sábio, é certo.
TIM
É
verdade o que ele diz, pai; um homem sábio, por amor, procura em
cada buraco; meu tutor sabe.
TUTOR
Verum
poeta dicit.3
TIM
Dicit
Virgilius4,
pai.
DOURADO
Eu
lhe rogo, não fale de virgens5,
que já nem sei se é mais. Onde está sua sábia mãe agora?
TIM
No
auge da loucura, eu acho; pensei que ia se afogar. Não quis esperar
remeiros,
e tomou um barco de pesca; é bem certo, acho, que foi tentar
pescá-la!
DOURADO
Agora
ela
vai fisgar um belo prato
de piabas,
E
somos nós as piadas.6
Entra
Rosinha puxando
Maria pelo cabelo, e
dois Remeiros.
ROSINHA
Te
arrasto de volta pelo cabelo.
TERCEIRO
REMEIRO
Madame,
deixe-a!
ROSINHA
Cuide
da sua vida.
QUARTO
REMEIRO7
A
senhora é uma mãe cruel.
Saem
os Remeiros.
MARIA
Oh,
é a morte do meu coração!
ROSINHA
Vou
te fazer de exemplo p'ra todas filhas da vizinhança.
MARIA
Adeus,
vida!
ROSINHA
Vocês
conspiradoras fingem bem.
DOURADO
Chega,
chega, Rosa.
ROSINHA
Trouxe
sua joia pelo cabelo.
DOURADO
Cá
está ela, fidalgo.
SIR
WALTER
Basta,
só me sinto pior.
TIM
TIM
Olha
pra ela, Tutor; ela a trouxe da água como uma sereia8;
é
só meia irmã minha agora, apenas
a parte de carne, o resto se pode vender no mercado.
ROSINHA
Rapariga
falsa e matreira!
DOURADO
Vadia
sem vergonha!
SIR
WALTER
Ou
largam disso os dois, ou sou eu quem larga tudo!
[A
Maria]
Por que me trataste assim, cruel senhorinha?
Que
fiz p'ra merecer?
DOURADO
O
senhor fala
macio demais:
Seguiremos
outro alvitre, e prevenimos tudo;
Já
podia ter sido feito; agora é correr,
E
não mais confiar nela.
Amanhã
de manhã,
Tão
logo saia o sol, será o enlace dos dois.
MARIA
Não
me deixai
ver o amanhã raiar sobre o mundo.
DOURADO
Agrada-lhe,
senhor? Até lá, fica sob vigia!
ROSINHA
Vai
ficar, rapariga.
Saem
Dourado, Rosinha forçando Maria, e, separadamente, Sir Walter.
TIM [Enquanto
eles saem]
Pois,
pai, meu tutor e eu vamos vigiar de armadura.10
TUTOR
E
como conseguimos armas?
TIM
Não
se preocupe com isso. Se
preciso for, posso mandar trazer
uma lâmina de muitas conquistas, Tutor, que
nunca
perdeu uma batalha. Está logo ali na Abadia de Westminster; conheço
quem guarda os monumentos; posso pegar emprestada a espada de
Henrique V11,
vai
bastar para nós dois vigiarmos.
Saem.
1Brinca-se
com a dureza do couro dos uniformes dos sargentos (“buff jerkin”)
[LW].
2Cinto
de castidade. O rígido controle sobre as mulheres era associado à
Itália [LW].
3“Verdade
diz o poeta”.
4“Di-lo
Virgílio”. Tim poderia estar se confundindo enttre o Ars
Amatoria de Ovídio e o sisudo
Virgílio [LW].
5Dourado
ouve em Virgilius a palavra “jills” [LW]/”gills” [AB/L&T],
que apontava uma mulher promíscua.
6“Gudgeons”
são peixes miúdos usados para isca, e “gape for a gudgeon”
significava ser enganado [LW].
7As
atribuições a Terceiro e Quarto Remeiros seguem a emenda adotada
em 4.2 (ver nota a 4.2.20).
8“Mermaid”:
prostituta; “fishwives” (l.28): vendedoras de peixe/cafetinas.
Ver Hamlet 2.2.176 [GW “fishmonger”].
9“Fates”
se referia às Parcas (Roma)/Moiras (Grécia), divindades que teciam
e rompiam o fio da vida [LA].
10Além
de brincar com a tradição cavalheiresca, “in armour” podia se
referir ao efeito da bebida [LW/L&T].
11Henrique
V reinou de 1413 até a morte em 1422 e conquistou importantes
vitórias na França. Suas armas, no entanto, haviam sido roubadas.
É possível que Tim se confunda com a enorme espada de Henrique
VIII [L&T].
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