terça-feira, 3 de outubro de 2017

4.1

4.1

Entram Tim e o Tutor.
TIM 
Negatur argumentum,1 tutor meu.
TUTOR 
Probo tibi, aluno meu, stultus non est animal rationale.2
TIM 
Falleris sane.3
TUTOR 
Quaeso ut taceas: probo tibi.4
TIM 
Quomodo probas, domine?5
TUTOR 
Stultus non habet rationem, ergo non est animal rationale.6
TIM 
Sic argumentaris, domine: stultus non habet rationem, ergo non est animal rationale.7 Negatur argumentum novamente, tutor meu.
TUTOR 
Argumentum iterum probo tibi, domine: qui non participat de ratione, nullo modo potest vocari rationalibus, ocorre que stultus non participat de ratione, ergo stultus nullo modo potest dicere rationali.8


TIM 
Participat.9
TUTOR 
Sic disputas: qui participat quomodo participat.10
TIM 
Ut homo, probabo tibi in syllogismo.11
TUTOR 
Hunc proba.12
TIM 
Sic probo, domine: stultus est homo sicut tu et ego sumus; homo est animal rationale, sicut stultus est animal rationale.13
Entra Rosinha.
ROSINHA 
Nada mais que disputações o dia todo, esses dois!
TUTOR 
Sic disputas: stultus est homo sicut tu et ego sum; homo est animal rationale, sicut stultus est animal rationale.14
ROSINHA 
Suas razões são ambas boas, quaisquer que sejam;
Rogo que as deixem de lado, vão se cansar;
Qual é a questão entre vocês?
TIM 
Nada além de um debate sobre um tolo, mãe.
ROSINHA 
Sobre um tolo, filho? Ai de mim, que necessidade há de ocupar a cabeça com isso? Não há um de nós que não saiba o que é um tolo.
TIM 
Ora, o que é um tolo, mãe? Eu lhe estendo a pergunta.
ROSINHA 
Ora, aquele que se casa antes de ter siso.
TIM 
Boa resposta, de verdade, bem pensada para uma mulher que nunca se instruiu na universidade; mas traz aqui15 o tolo que for, mãe, e eu o provarei uma criatura tão razoável quanto eu mesmo, ou meu tutor aqui.
ROSINHA 
Tá bom, é impossível.
TUTOR 
Não, ele consegue, garanto.
TIM 
Tolo é a coisa mais fácil de se provar, com lógica.16
Com lógica eu provo qualquer coisa.
ROSINHA 
Que! Prova nada!
TIM 
Eu provo a honestidade de uma puta.
ROSINHA 
Não, por minha fé, ela mesma que prove isso,
Ou a lógica não dará conta.
TIM 
Dá sim, estou dizendo.
ROSINHA 
Alguns nesta mesma rua dariam mil libras
P'ra você provar isso das esposas.
TIM 
Pois eu posso,
E todas as filhas também, mesmo com três bastardos.
Quando vem cá seu alfaiate?
ROSINHA 
Por que, que tem ele?
TIM 
Com lógica, eu provo que ele é um homem,17
Que venha a hora que quiser.
ROSINHA [Ao Tutor]
Como foi difícil seu aprendizado no começo! De fato, senhor, pensei que nunca ia captar essa língua latina. Quantos livros de declinação pensa que ele gastou antes de chegar aos de gramática?
TUTOR 
Uns três ou quatro.
ROSINHA 
Acredite, senhor, uns trinta e quatro.
TIM 
Bah, viravam arenques p'ra colar no Zé Quaresma.18
ROSINHA
Ele passou oito anos na gramática dele, e empacou horrivelmente em uma parte estúpida lá, chamada “asno” praesenti.19 
TIM 
Rá! Tenho ela aqui, agora. [Aponta para a testa.]
ROSINHA 
Ele uma vez me envergonhou tanto na frente de um honesto cavalheiro que me conheceu20 quando eu era donzela.
TIM 
Essas mulheres precisam por tudo p'ra fora!
ROSINHA 
Quid est grammatica?”21 diz-lhe o cavalheiro – eu me recordo por um doce, doce detalhe – mas ele nada pôde responder.
TUTOR 
E agora, aluno meu, quid est grammatica?
TIM 
Grammatica? Ha, ha, ha.
ROSINHA 
Ora, não ria, filho, diz logo que eu quero ouvir: tinha uma palavra que saía tão bonita da língua do cavalheiro, vou me lembrar enquanto viver.
TUTOR
Vamosquid est grammatica?
TIM 
Não se envergonha, tutor? Grammatica? Ora, ars scribendi atque loquendi rectum22, com perdão de minha mãe.
ROSINHA 
Era isso mesmo! Pois bem, filho, vejo que virou um sábio acadêmico. E, senhor Tutor, uma palavra, eu lhe rogo. [À parte ao Tutor] Vamos nos recolher ao quarto de meu marido. Vou mandar a nobre dama do Norte de Gales até ele, ela anseia por ser cortejada. Vou por os dois juntos e trancar a porta.
TUTOR 
A conclusão da senhora está aprovada com mérito.
Saem Rosinha e Tutor.
TIM 
Me intriga o que essa tal nobre dama possa ser, que eu devo desposar. É uma estranha para mim.
Me pergunto o que tencionam meus pais, de verdade,
Ao me unir a uma estranha assim,
Uma moça que não é vizinha nem parente.
Por minha vida, pensam eles que dou tal valor a meu corpo a ponto de me deitar com alguém que nunca conheci, uma mera estranha, alguém que tampouco foi à escola comigo, com quem nunca brinquei junto?23
Uma imprudência da parte deles, eu acho.
Eles dizem que ela tem monanhas por dote;
E é cheia de gado, uns dois mil “boizanões”.24
Agora, qual será o sentido de “boizanão”,
Meu tutor não sabe me dizer.
Eu consultei o Dicionário de Latim25 na letra B, e nem notícia desses “boizanões” lá também; a menos que sejam leitões de Romford26, sei lá o que são.
Entra a Dama Galesa.
E lá vem ela. Se eu sei o que dizer a ela agora com vistas a casamento, não sou graduado algum.
Acho, na verdade, muita ousadia dela
Adentrar meu quarto não passando de uma estranha;
Ela não poderá dizer que sou orgulhoso, falarei com ela; afe, do meu jeito, ela não vai alcançar minhas palavras, garanto a ela.
[A Dama Galesa faz uma mesura.]
Ela me olha e faz mesura! [A ela] Salve tu quoque puella pulcherrima, quid vis nescio nec sane curo,27 – frase do próprio Cícero,28 e de cor!
DAMA GALESA 
[À parte] Não faço ideia do que diz: isso lá é corte?
Aposto a minha vida que não entende inglês.
TIM 
Fertur me hercule tu virgo, Wallia ut opibus abundis maximis.29
DAMA GALESA 
[À parte] Que é isso de abundundis maximis? Na certa caçoa de mim, e me chama de bunduda.30
TIM 
[À parte] Agora não tenho palavra latina pros “boizanões” deles; vou improvisar alguma coisa: [A ela] Iterum dico, opibus abundis maximis montibus et fontibus et, ut ita dicam, "boizananibus"; attamen vero homunculus ego sum natura, simul et arte bachalareus, lecto profecto non paratus.31
DAMA GALESA 
[À parte] Isto é muito estranho; quem sabe fale galês.
[A ele] A fedrwch chwi Cymraeg? Er duw, cog fo gennuf?32
TIM 
[À parte] Fo gennuf? Eu desdenho de “foguer” com ela, vou dizer isso, em uma palavra próxima a sua língua; [A ela] Ego non fogo.33
DAMA GALESA 
Rhyw gosyn a chwigyn ar ôl bod yn cerdedd am dro.34
TIM 
[À parte] Por minha fé, ela é boa acadêmica, já vejo isso: está claro que tem jeito com línguas; aposto minha vida que ela é muito rodada. Que dirá a gente? “Lá vai o douto casal”! Poxa, se fosse revelado que ela pôs a mão num canudo!35
Entra Rosinha.
ROSINHA 
Pois bem, a quantas anda este negócio?
TIM [À parte]
Que bom que minha mãe venha nos apartar.
ROSINHA [À Dama Galesa]
Como se entendem vocês dois, me digam?
DAMA GALESA 
Tão bem quanto antes de travar conhecimento.
ROSINHA 
Como assim?
DAMA GALESA 
A senhora me apresenta um homem que não entendo;
Seu filho não é inglês, é o que eu penso.
ROSINHA 
Não é inglês?
Bendito seja, nascido no coração de Londres!
DAMA GALESA 
Estou há tempo suficiente no quarto com ele,
E não posso extrair dele nem galês, nem inglês.
ROSINHA 
Ué, Tim, como você se portou ante a nobre dama?
TIM 
Do melhor modo que pode um homem, mãe, em latim modesto.
ROSINHA
Latim, seu tolo?
TIM 
E ela redarguiu em hebraico.
ROSINHA 
Em hebraico, seu tolo? É galês!
TIM 
Dá na mesma, mãe.
ROSINHA 
Ela fala inglês, também.
TIM 
E quem me disse isso?
Poxa, se fala inglês, posso com ela contrair36
Núpcias; achei que ela fosse uma estrangeira.
ROSINHA [À Dama Galesa]
Você o perdoe: tão aclimatado ao latim,
Ele e o tutor, que já quase se esqueceu por completo
De usar a língua protestante.
DAMA GALESA 
Já está perdoado, acredite.
ROSINHA 
Tim, repara seu erro e beija ela. [À Dama Galesa] Ele se aproxima de você, não vê?
Tim beija a Dama Galesa.
TIM 
Oh, que delícia! Dá p'ra saber sua origem37 pelo beijo; é um dito acertado: “Nada tem um gosto tão bom quanto uma ovelhinha38 galesa.” [À Dama Galesa] Foi dito que a senhorita tem um vasto repertório.39
ROSINHA 
Como poucas, Tim, as mais doces canções bretãs.
TIM 
E é minha ideia, juro, antes de casar,
Ver duma vez as melhores partes40 da esposa,
A fortuna que me cabe.
ROSINHA 
Vai ouvir doce música, Tim.
[À Dama Galesa] Eu lhe rogo.
DAMA GALESA [Canta.]41
Cupido é de Vênus todo orgulho,
Mas é um guri levado do barulho;
Um guri tão levado, do barulho!
Flecha o seio nu das adolescentes;
Quanto aos homens, ele lhes faz crescentes.
Eu quero dizer na testa,
Não se vê, mas se detesta.
Foi o primeiro a pensar o meio
De'a lábios de moças dar bom recreio.


Por que Vênus o filho não afronta,
Pelas travessuras que ele apronta,
As marotas travessuras que'apronta?
Atira ele tanta seta em chamas,
Que acertam as moças em suas camas;
Oh, céus, que golpe penetrante!
A seta dele é tão debilitante,
Que sumiriam logo vida e razão,
Não fosse ele aguçar a ação.


Pode ser do paraíso o ensejo
Um simples breve e fugaz beijo,
Um simples breve, breve, fugaz beijo?
Pro prazer, demorar é desperdício,
Um só beijo faz todo um rebuliço.
[Mulheres honradas, com todo zelo,]42
Precisaram antes deixar de sê-lo.
Único passatempo que conhecem
Que de cima abaixo se reconhecem.
TIM
Não trocaria esta minha esposa por um reino;
Eu não faço mal também, mas só quando escondido.
Entram Dourado e Amâncio, disfarçado.
DOURADO 
Ora, disse bem, Tim! sinos tocam docemente,
E que bom que se toquem43. Mulher, leva eles p'ra dentro;
Cá um cavalheiro estranho quer falar em privado.
Saem Rosinha, Tim e Dama Galesa.
És bem-vindo, senhor, ainda mais pelo nome,
Bom senhor Dourado; pois quero bem a meu próprio nome:
E de quais dos Dourados seria o senhor descendente,
Se é que posso ousar perguntar, de quais, eu lhe rogo?
AMÂNCIO 
Os Dourados de Oxfordshire, ali perto de Abbington.44
DOURADO 
São esses os melhores Dourados, e os mais bem criados;
Eu mesmo vim de lá, embora seja já cidadão45.
Sem cerimônia, o senhor é muito bem-vindo.
AMÂNCIO 
Minha esperança é que meu zelo assim mereça.
DOURADO 
Não espero menos: que deseja, senhor?
AMÂNCIO 
Eu sei, só por rumores, que o senhor tem uma filha,
Que eu, por audaz amor, passo a chamar de “prima”.46
DOURADO 
Sou grato por ela, senhor.
AMÂNCIO 
Soube de suas virtudes e demais graças incontestes.
DOURADO 
Uma garota custosa, senhor!
AMÂNCIO 
Pois a fama a veste de mais ricos ornamentos
Do que o senhor escolhe se gabar; é pura modéstia:
Ouvi que vai se casar.
DOURADO 
Ouviu a verdade, senhor.
AMÂNCIO
Com um fidalgo recém-chegado, Sir Walter Cachorrão. 
DOURADO 
Ele mesmo, senhor.
AMÂNCIO 
Pois eu só posso lamentar muito.
DOURADO 
Lamentar? Por quê, primo?
AMÂNCIO 
Não será já tarde demais? Pode ainda ser cancelado?
DOURADO 
Cancelado? Por quê, bom senhor?
AMÂNCIO 
Só me esclarece este ponto, num instante eu lhe digo.
DOURADO 
Não se firmou contrato.
AMÂNCIO 
Fico muito feliz, senhor.


DOURADO 
Mas é ele o homem pro seu leito.
AMÂNCIO 
De modo algum, primo, será a ruína dela,
E o senhor se arrependerá de formar um tal par;
Ele é um libertino sem remissão, gasta tempo e fortuna
[Com uma certa dama aqui da redondeza,]47
Que, pelo que sei, ele tem mantido faz sete anos;
Olha, primo, e esposa de outro homem!
DOURADO 
Mas é abominável!
AMÂNCIO 
Mantém todo o lar, o vestuário do marido,
Paga a féria dos criados, não muito, mas... 48
DOURADO 
Isso só fica pior! E o marido sabe?
AMÂNCIO 
Sabe? Sim, e feliz por saber, é seu sustento;
Como prosperam outros ramos, açougueiros com carne,
As granjas49 e suas coelhinhas, e por aí vai, primo.
DOURADO 
Que incomparável corno manso será esse?
AMÂNCIO 
Ih, que liga ele p'ra isso? Pode crer, primo,
Não mais que eu.
DOURADO 
Que escravo rasteiro será esse?
AMÂNCIO 
Nada lhe importa; ele tem repasto e repouso,
Nunca foi homem de interromper o próprio sono
Para gerar um filho de sua própria lavra,
Mesmo assim, a esposa tem sete.
DOURADO 
Que! De Sir Walter?
AMÂNCIO 
Sir Walter, é certo, a eles provém e sustenta
Com todo fausto; e não faria menos, senhor.
DOURADO 
Por minha vida, filhos também?
AMÂNCIO 
Filhos? Desta altura,
Já às voltas com Catão e Cordélio.50
DOURADO 
Que! É troça, senhor?!
AMÂNCIO 
Pois! Um sabe fazer versos,
E estuda agora no Eton College.51
DOURADO 
Oh, esta notícia me corta o coração, primo.
AMÂNCIO 
Cortaria mais fundo se tardasse mais a vir à tona.
Mulher dum tal Amâncio.
DOURADO 
Amâncio? Céus, não me é estranho;
Ele batizou uma neném há pouco?
AMÂNCIO 
Sim, tal obra
Custou ao tal fidalgo acima de cem marcos.
DOURADO 
Vou marcá-lo como um pulha e um vilão por isso.
Mil graças e bençãos; está tudo terminado com ele.
AMÂNCIO 
[À parte] Ha, ha, ha, eu tenho este fidalgo no cabresto;
Não escapa ainda, esposa alguma terá;
Corteja por aí, mas lá em casa seguirá. Ha, ha!
Sai.
DOURADO 
Bem, que seja verdade, que sua vida é obscura,
Pois que é casamento, senão desse mal a cura?
Eu mesmo mantive amásia, e gerei um bastardo,
Na senhorita Anna, no anno [ ].52
Que me importa quem saiba; é agora um belo mancebo,
Já desfruta dum posto53. Que o possam os frutos dele54;
São só gerados na infâmia, como eu gerei aquele.
O fidalgo é rico, é certo que será meu genro.
Não importa, desde que sua amásia esteja íntegra:55
Minha filha nada sofre. Que se casem, então;
Vou fazê-lo se tratar56 antes da consumação.
Entra Rosinha.
ROSINHA 
Oh, marido meu!
DOURADO 
Que houve, Rosinha?
ROSINHA 
É o nosso fim! Ela fugiu, fugiu!
DOURADO 
De novo? Pela morte! Por onde?
ROSINHA 
Pelos quintais.57
Põe guarda no cais, ou nós a perderemos p'ra sempre.
DOURADO 
Que rapariga audaz!
Saem Dourado e Rosinha.58 Entram Tim e o Tutor.
TIM 
Ladrões! Minha irmã foi roubada! Algum ladrão a levou;
Oh, que milagre que a baixela de meu pai tenha escapado!
Estava toda exposta, Tutor.
TUTOR 
Será possível?
TIM 
Fora três colares de pérola e a caixa de coral.
Minha irmã sumiu. Vamos procurar na Escada Trig.59
Minha mãe foi lá vigiar as escadas públicas
No Cais da Poça; e na Doca da Cloaca60
Rio abaixo, está meu pobre pai. Corre, doce Tutor!
Saem.
1“Argumento negado”
2“Provo a ti... o tolo não é um animal racional.”
3“Falharás na certa.”
4“Peço que te cales, provo a ti.”
5“De que maneira provas, senhor?”
6“O tolo é desprovido da razão, por conseguinte não é um animal racional.”
7“Assim argumentas, senhor: o tolo é desprovido de razão, por conseguinte não é um animal racional.”
8“Torno a provar-te o argumento, senhor: a quem é desprovido da razão não se pode de modo algum chamar racional... o tolo não compartilha da razão, e por conseguinte do tolo de modo algum se pode dizer que é racional.” Há erros em “rationalibus” (rationalis) e “dicere” (dici) [LW].
9“Compartilha.”
10“É o que contestas: quem compartilha e como compartilha?”.
11“Como homem; provo-te com um silogismo.”
12“Prova-o.”
13“Provo da seguinte maneira, senhor: o tolo é um homem como somos tu e eu; o homem é um animal racional, desse modo o tolo é um animal racional.”
14“É o que contestas: o tolo é um homem como somos tu e eu; o homem é um animal racional, desse modo o tolo é um animal racional.”
15Na verdade, “bring forth” sugere também “parir” apontando para ele mesmo [L&T].
16(1) É fácil provar que um tolo é um animal racional, (2) É fácil fazer-se de tolo afetando saber lógica [LW].
17Alfaiates tinham reputação tanto de efeminados quanto de aproveitadores da intimidade com as mulheres que o ofício confere (ver 2.2.14) [AB].
18Passagem difícil, “I made haberdines of 'em in church porches.” provavelmente alude ao costume de colar recortes em forma de arenque no boneco chamado Jack-a-Lent [AB], mas pode apontar alguma brincadeira infantil [LW].
19As in praesenti”: fórmula presente no Brevissima Institutio, de Lyly e Colet (1549), um livro-texto de latim popular [L&T]. Embora as três edições apontem jogo com ass=arse (traseiro), aqui prevalece “asno”. Ver 4.1.62 e nota [LA].
20Brinca-se com o sentido biblico de “conhecer”: ter relações sexuais [GW “know”].
21“O que é gramática?”
22Latim errado para “a arte de corretamente escrever e falar”. No original, “recte scribendi atque loquendi ars”, aproveita-se o trocadilho com “arse”, traseiro; sacrificou-se o latim de Tim (já imperfeito), adaptando a sugestão anatômica em “rectum”.
23Sugerem-se jogos sexuais homosexuais de iniciação [LA].
24“Runt” designa uma raça bovina anã comum em Gales e na Escócia [LW].
25Rider's Dicionary, dicionário latim/inglês publicado em 1589 por John Rider [LW].
26Romford, 19km a nordeste de Londres, famosa pela feira de leitões, e outro destino de amantes furtivos [LW].
27“Salve a ti também mui bela jovem, o que queres não sei, nem de fato me importa.”
28“Tully”, apelido por que Marcus Tulius Cícero era conhecido [LW]. A atribuição de Tim é obviamente absurda [LA].
29“Dizem - por Hércules! - virgem, que tua fortuna abunda em Gales.”; “abundis” é um erro para “abundas” [LA].
30Adapta-se “bundle of farts”, fardo de peidos, trocadilho com “fertur” e “abundundis
31“Novamente digo que abundas em riquezas, em montes e fontes e, como posso dizer, 'boizanões' [cunhando 'boizananibus']; no entanto, a verdade é que sou um homúnculo por natureza e ao mesmo tempo bacharel por formação, certamente despreparado para o leito nupcial.”
32“O senhor fala galês? Por Deus, estará fingindo comigo?”
33“Ego non cogo”, brinca com “cog” que podia apontar (1) enganar, (2) copular [LW] (daí “foguer”).
34“Um pouco de queijo e soro depois de uma caminhada.”, considerados a dieta básica dos galeses [LW].
35Há sugestões sexuais em “travel” (viajar/ter experiência/parir) e em “proceed” (formar-se/perder a virgindade) [LW]. Lembrar que mulheres não iam à universidade [LA].
36“Clap” : juntar as mãos no matrimônio, sugerindo [LW/L&T] gonorreia, ou [AB] sífilis; [GW] define “clap” como “contratempo sexual”, donde viria a gíria atual para gonorreia. A diferenciação clínica entre as duas doenças, no entanto, só ocorreu no século XIX [LA].
37Em “country”, joga-se com “cunt”, vagina, e “kissing” sugere cópula [GW “cunt”, “kiss”]. Ver Hamlet 3.2.11.
38Gales era famosa pela pecuária ovina. “Mutton” era gíria para prostituta ou mulher experiente [LW].
39Adaptação para “sing”: (1) cantar, (2) copular [GW].
40(1) Qualidades, (2) Partes pudendas [GW].
41Gales era associada à canção (1 Henry IV , 3.1.240sd). Middleton retoma esta em More Dissemblers Besides Women.
42Linha aparentemente perdida ou censurada, suprida por conjectura.
43Aqui, conforme a opção por “peals a'life” ou “peals o'life”, interpreta-se o trecho como “amo estes dobres como minha vida” [L&T] ou “amo estes dobres da vida” indicando a maturação sexual de Tim [LW].
44Abingdon, no condado de Berkshire [L&T].
45“Citizen”: (1) cidadão londrino, (2) membro da classe média (mercadores e artesãos bem sucedidos) [LW].
46A ironia com o sentido de “prostituta” é incidental do português brasileiro.
47Linha aparentemente perdida, suprida por conjectura.
48Passagem truncada, possivelmente censurada.
49“Poulters”/“granjeiros” negociavam aves e caça; nome associado à cafetinagem, como o sexo à carne, novamente [LW].
50Livros ecolares caros aos puritanos: Disticha de Moribus (c. 300), de Dionysius Cato, e Colloquia Scolastica (1564), de Mathurin Cordier [AB].
51Prestigioso internato fundado em 1440 por Henrique VI [AB]. “College” não designa ensino superior [LA].
52No espaço em que o ano seria dito, há uma lacuna, que pode indicar uma abertura para mudanças, ou censura. Pode-se conjecturar que fosse uma provocação a alguma personalidade, talvez o próprio censor (Master of the Revels) [LA].
53“Warden” (1) membro de guilda, (2) um tipo de pêra, daí o jogo com “frutos” [LW].
54Os bastardos de Sir Walter.
55Livre de doença venérea.
56“Sweat well”: tratamento por vapor de mercúrio para a sífilis [GW “sweat”].
57“Over the houses” levou [LW e L&T] a assumirem uma fuga pelos telhados; no entanto, “over” também significa “através” (OED.4) e não apenas “por sobre”. Como há sugestões de uma fuga improvável e desagradável em 3.3.30-34, 4.2.26 e 4.3.8-9, Rosinha parece usar um eufemismo, talvez porque a fuga foi pelo esgoto. Isso se conformaria com as imagens de líquidos na peça. Outra dificuldade é a palavra “gutter” ser tanto “calha” quanto “sarjeta, vala”; considerou-se que a mesma palavra sugere ainda a fissura das nádegas quando usada junto a “vias ocultas” em 3.3.30 [LA].
58Alguns editores introduzem uma divisão de cena aqui. A ação, no entanto, é contínua.
59Trig Stairs: escadas até o Tâmisa. “Trig” aponta para “coxcomb”: tolo (e assim, para Tim) [LW].

60Puddle Wharf: originalmente um nome próprio, “puddle” passou a se referir às poças deixadas pelos cavalos. Já a referência a “dock below” (a doca rio abaixo) aponta provavelmente a Dung Wharf, (“dung” = esterco) onde os rejeitos da cidade eram embarcados [LW].

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